sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Valeu a pena



Hoje quando acordei senti falta de alguém...
Tentei lembrar quem seria, mas meu coração já não recordava como era sua face. Procurei em fotos que eu guardava, procurei vídeos, tentei ir o mais profundo possível em minhas lembranças, mas de nada adiantou. Então resolvi esquecer e continuar meu dia... Parecia que estava tudo bem e por um momento eu cheguei a esquecer isso... Mas não durou muito tempo, logo bateu uma saudade daquelas que apertam o coração... Sem entender bem o que estava acontecendo, eu me sentei por um momento em uma praça e fiquei a observar as pessoas que por ali passavam, enquanto tentava de alguma maneira identificar, talvez, em um daqueles tantos rostos que passavam por mim, o motivo daquele sentimento tão forte que me consumia naquele momento... Foram horas em vão... O sentimento continuava, mas em minha mente, nada além de um grande vazio.
Passei o dia todo assim, com o coração pequeno, apertado, desesperado... Chegou a noite eu já não agüentava mais. Resolvi então fazer uma caminhada pelas ruas vazias de meu bairro e então algo me chamou a atenção... Era uma pequena igreja, parei  ali perto e fiquei a observar enquanto meu coração apertava ainda mais. Fiquei ali por um instante, mas logo resolvi continuar minha caminhada... Passei por bares, por praças, por algumas ruas escuras, por uma escola... E em alguns determinados lugares por onde passava, meu coração apertava um pouco mais... Cheguei a uma pequena praça onde costumava sentar com velhos amigos. A praça estava completamente vazia, talvez por já ser tarde da noite... Sentei então naquele mesmo banquinho que costumava sentar e fiquei em silêncio enquanto minha mente vagava pelo tempo e me trazia recordações dos tantos dias e noites que passei sentado naquele mesmo local... Lá estava eu, sozinho, em profundo silêncio, completamente entorpecido de lembranças, mas aquela sensação, aquele aperto no meu coração... Eu já me sentia sem ar... Foi quando querendo respirar melhor, ergui minha cabeça para cima e passei a contemplar o céu... E foi então que vi a Lua... Nesse momento meu coração quase parou... Lá estava ela com todo seu esplendor, com toda sua magia, com toda sua beleza... E por um instante eu parecia ter sido transportado para um outro mundo, um mundo tão distante, um mundo perdido em algum lugar do tempo... Eu me via sentado naquela praça, dividindo aquele mesmo banco com alguém que eu já nem lembrava mais um dia ter passado por minha vida... E agora, meu coração batia acelerado, e então eu pude o compreender...     Uma avalanche de lembranças desmoronava sobre mim enquanto eu ficava ali completamente inerte... Aquele rosto, aquele cheiro, aquele toque, os fios de cabelo... Quanto tempo... Hoje eu sei o quanto estava enganado quando um dia pensei que:
“Há momentos para excluirmos de nossas vidas quem não deveria ter entrado e que na verdade dos fatos, nunca fez realmente parte dela...”  
Hoje eu sei que, independente dos fatos, a verdade é que cada pessoa que passa em nossas vidas, não passa em vão, elas sempre nos deixam algo, mesmo que uma pequena lição... Sei que algumas pessoas permanecerão e outras não. Sei que algumas nos marcarão profundamente, assim como muitas apenas passarão sem deixar muitas saudades. Sei que algumas partirão, mas com uma enorme vontade de ficar... As pessoas entram em nossas vidas e nos convidam a rir, chorar, cantar, dançar, nos convida a sentir, a ser, a crer... E, hoje eu sei que nada na vida é em vão, que nenhuma pessoa que passa por nós, passa apenas por passar e, que por mais doloroso que tenha sido nossas experiências, nada terá sido em vão se tivermos aprendido algo... Hoje eu sei que valeu a pena, cada momento vivido, cada sorriso dividido, cada abraço apertado e beijo roubado. Valeu à pena cada lagrima derramada, cada noite mal dormida, cada momento de angustia... E ainda que nem todos pensem como eu, ainda que muitos discordem,  como já dizia o poeta:

A cada dia que vivo mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento, perdemos também a felicidade.”

 Por isso...  Hoje eu sei... Valeu à pena!


(Carlos Rocha)

Um comentário:

  1. Adoro seus posts, seus contos, seu jeito de escrever... me sinto seduzida e levemente embevecida pela deliciosa malemolencia que me envolve ao te ler.

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