quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O SOBREVIVENTE


E eu vou sobrevivendo...
Erguendo-me a cada manhã, com um sorriso no rosto e com uma fé quase inabalável.
E eu vou sobrevivendo...
Mas não porque sou forte, mas porque essa é minha sina, minha benção, ou maldição.
E eu vou sobrevivendo...
Vou seguindo a diante, mesmo sangrando, mesmo em pedaços...
Vou sobrevivendo, porque sou um sobrevivente!
Não importa o porquê. Não importa a razão...
Eu apenas nasci para sobreviver.


(Carlos Rocha)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

NOITE MINGUANTE




Estávamos sentados, a morte e eu, face a face, em uma noite fria de dezembro. Entre um copo de whisky e uma pitada de cigarro trocávamos olhares desinteressados e monótonos enquanto a noite se prolongava. 

Uma vitrola velha tocava um blues de um disco arranhado, enquanto um gato negro persistia em arranhar o telhado. Lembro-me que a lua minguante, minguava minha paciência na entediante noite que não acabava, enquanto a janela entreaberta batia devido a um vento gélido vindo do sul que assobiava. Tinha, ainda, um lustre velho com meia dúzia de luzes, das quais apenas uma iluminava. Uma mesa de centro, um sofá encardido e quadros desbotados numa parede amarelada.

A morte não dizia nada, muito menos eu me pronunciava. Ficávamos ali trocando olhares enquanto a noite se arrastava. Hora ou outra um de nós pestanejava, mas sem desviar o olhar daquele que fitava. E assim foi indo até que a meia noite o relógio soou dez badaladas, não sei se foi o badalo ou o fato da janela que de tanto bater, nesse momento se escancarava, mas a morte virou-se para vê do que se tratava e foi aproveitando tamanha distração que eu saquei a minha espingarda.

Ah... Eu bem me lembro da surpresa e sua cara de espantada. Fui tão rápido no gatilho que ela não pode acreditar, dei cinco tiros na desgraçada antes mesmo ela pestanejar. E na noite entediante, de lua minguante iria a própria morte minguar, e iria eu, o homem que matou a morte, se vangloriar, enquanto nos quatro cantos do mundo, entre um copo de whisky e uma pitada de cigarro, para todos essa história contar. Mas quando me dei conta, o tiro saiu pela culatra e era minha própria cabeça que os cinco tiros acabavam de estourar... Que tédio!


(Carlos Rocha)